quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Indeterminante

E assim, rumou em direção ao incerto, ao inacabado. Onde sempre teria o que fazer, porque lá sempre há o que fazer, e o que terminar. O problema é que há muito pouco o que começar. Sempre terminando o que outros começaram, sempre construindo e terminando algo que nao é seu, e que não será. Aliás, na terra do incerto e do inacabado, nada se termina. E mesmo que haja pouco o que começar, sempre há, mas poucos encontram. Só não conseguem terminar. Às vezes são felizes, mas nunca, nunca em sua plenitude, por mais que não queiram admitir. Ostentam sorrisos nos rostos e posturas alegres e descontraídas, mas no interior, metade sombra, metade luz. Alguns possuem buracos, de onde deixam sair um pouco da metade de luz, e levam essa claridade para aqueles que não possuem esses buracos, que são justamente os que não conseguem começar nada na terra do inacabado. Rumando para lá, sabia que não haveria volta, a menos que terminasse o que começou... esqueceu-se somente que na terra do inacabado e do incerto, nada se termina...

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Acabou. Agora é assim, tudo diferente:
Sem cabelo, sem dente.
E ainda tem muito o que aprender...
Vai crescer e morrer, como tudo.
E o velho coitado... foi-se!
Quem riu, riu, quem cohoru, chorou;
Quem nao riu, terá mais uma chance;
E quem chorou também, porque não?
Criança nova é engraçadinha
Mata a gente de rir...
Mas como chora! É um escândalo!
Também criança nova, quando cresce
Costuma aprender com os velhos
E o velho que morreu tem muito o que ensinar.
Ah, como tem!
Lutou feito louco, gripado e com máscara na cara;
E com agulhas no corpo também.
Lutou contra o câncer, a dor e o sofrimento.
De cabeça em pé e braços abertos, um Cristo!
Nasceu na praia, mas não vai morrer na praia.
Bem que podia...
Deixou também uma mensagem:
"Just dance"
E quem dançou, dançou...
Quem não dançou, meu amigo
Que dance agora!
Sobre o túmulo do desgraçado,
E na maternidade da criancinha!
Adeus Lênin, adeus Michael...
Vai deixar saudades, como o velho.
Vai? Sei lá...
Só que é tão mais legal brincar com o neném
Do que com a avó, nao é?
E, como sempre
A gente leva do morto saudade e herança,
Quando tem...
Mas esse tem, e é gorda!
Ah, como é...
"Houston, we have a problem"
Pra variar, como não?
Ainda bem que cada homem
É arquiteto da sua própria sorte
Prazer: meu nome é Oscar Niemeyer

sábado, 12 de dezembro de 2009

Pra alguém especial

Se um dia me perguntarem se eu amei na vida
Vou dizer que não.
Vou dizer que amei a vida.
A vida com seus mistérios e seus atrasos
A vida com sua beleza natural e espontânea
A vida sem mais, nem menos...
A vida que bate, que morde, mas que ensina
A vida que conforta e te traz paz
Mas que também é turbulenta e instável
Amei a vida que, ainda bem, Deus me deu
A vida que nem sempre a gente compreende
Mas que, em cuja ausência, nao somos nada.
Essa vida, que demora a chegar, mas quando chega, é perfeita
A vida que faz tudo valer a pena
Seja onde for, na circunstância que vier
A vida em sua plenitude fantástica
É ela que eu amo, e tudo o que a envolve
Amar a vida vai além de tudo, saiba disso...
A vida também zomba, ri, debocha
Amo-a, assim mesmo ...
Quem nunca chorou na vida que atire a primeira pedra!
E quem já deixou de amar a vida, mesmo tendo chorado?
Notou alguma semelhança?
Não resta a menor dúvida: eu amo a minha vida
Porque a minha vida é você.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

À pedidos, novamente o Mural

Mural Vazio

Separei no mural o espaço pra nossa foto, amor... aquela que não tiramos, lembra? ah, como eu queria ter tirado. Foi uma das melhores tardes da minha vida, aquela que não passamos... mas valeu a pena, sempre vale a pena quando estou do seu lado. Prometa-me que quando nos vermos, tiraremos muitas fotos e passaremos muitas tardes juntos? Eu não aguento mais viver sem o seu cheiro... é, esse mesmo! O cheiro daquele perfume que eu não te dei, pensei que você não fosse gostar... pensei que eu não fosse sentir falta dele. Ah, mas como eu sinto falta... Tantas palavras que eu não disse estão entaladas em minha garganta, e eu as profiro sempre que posso, para as paredes do meu quarto, minhas melhores ouvintes. Você gostaria de ouvir o que eu não disse, e ainda tenho para dizer. Tenho certeza que gostaria, eu conheço você.

Outro dia encontrei dentro daquele livro que voce não me deu, o papel do bombom que eu não comi... lembrei na mesma hora do dia em que você me deu o bombom, no portão da minha casa. Passei a noite toda secando lágrimas que não sairam dos meus olhos. Mas agora, neste exato momento, estou revendo nossas fotos, e resolvi separar o espaço no mural pra tal que não tiramos... e também tomando algumas decisões. Comprar um mural novo, talvez cortar o cabelo, mudar alguns quadros no quarto... e também parar de me arrepender de coisas que não fiz.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Sobre impressionismos e impressões

Estavam os dois sentados, ele na cadeira de balanço, ela no banquinho de carvalho, comido por cupins. O Porto em cima da mesa brilhava conforme a chama da moribunda vela resolvesse crepitar, e, no escuro do ambiente, ela bordava alguma coisa, talvez uma bata. Sua idade avançada a impedia de subir escadas e alimentar os porcos, mas nunca de bordar. Ele, o velho Teobaldo, já nao discernia muito bem os objetos do casebre que dividia com Madalena, e suas sobrancelhas espessas atrapalhavam sua visão, sem mencionar a grande barba preta, que atrapalhava muitas coisas. O tédio dominava o casal, há muito abandonados pelos filhos à própria sorte, recebendo ajuda de vizinhos solidários e uns poucos amigos que a vida lhes reservara. Feliz seria o curioso que tivesse paciência o suficiente para ouvir as histórias daqueles dois, a atenciosa Madalena, e o destemido Teobaldo. Este último tendo lutado em muitas guerras, deste e do outro mundo, velho vivido, experiente; sortudo, sim. Com um esforço sobrenatural, quebrou o silêncio do escuro cômodo:

- Nada mais nessa vida me impressiona... Que venha, então, a morte.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

A desequilibrada dinâmica da vida.

Quase um mês sem postar, me deu uma vontade de vir aqui devanear novamente...

Mas dessa vez nada de negas com histórias medonhas, nem frases soltas de sentidos implícitos e oscilantes entre as almas que as observam. Quero apenas devanear, muitas vezes é libertador e saudável.

É admirável o fato de que, quando mais estamos equilibrados, tendemos a cair. Porque nao há queda sem equilíbrio; alguém que ja perdeu o equilíbrio e caiu, naquele momento não pode cair de novo. Portanto, para cair, é preciso somente estar equilibrado, já que o equilíbrio nao é e nunca foi permanente. Estava centrado em tantas coisas, absortos nos compromissos do dia-a-dia, preocupado somente com o horário de chegar em casa e o horário de ir para a aula, coisas mundanas e corriqueiras. Será que isso é o equilíbrio? Será que equilíbrio é sinônimo de inoperância e ociosidade? não sei... mas fato é que considerava-me equilibrado, até então. Veja como tudo é questão de pontos de vista! E veja como a dinãmica da vida modifica o referêncial de equilíbrio que queda, de auge e fossa!

Enfim, novos ventos, circunstâncias e ocasiões sugiram e percebi o que realmente é a queda e o que realmente é o equilíbrio. Descobri também qual o verdadeiro referêncial... ou não. O problema é o ângulo pelo qual você observa tudo.
Hoje estou no céu, amanhã, de volta à Terra.

Eis a dinâmica da vida, eis os devaneios humanos, eis a realidade, nua, crua, ou da maneira que seu referencial lhe permitir enxergar.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Silêncio

Do alto da colina,
bem lá do alto, em cima de uma pedra
ela abriu os braços, enquanto ventava.
Os cabelos ondulando indicavam liberdade
o aperto no peito indicava prisão.
A chave: o grito profundo que ela soltou.