quarta-feira, 18 de novembro de 2009

À pedidos, novamente o Mural

Mural Vazio

Separei no mural o espaço pra nossa foto, amor... aquela que não tiramos, lembra? ah, como eu queria ter tirado. Foi uma das melhores tardes da minha vida, aquela que não passamos... mas valeu a pena, sempre vale a pena quando estou do seu lado. Prometa-me que quando nos vermos, tiraremos muitas fotos e passaremos muitas tardes juntos? Eu não aguento mais viver sem o seu cheiro... é, esse mesmo! O cheiro daquele perfume que eu não te dei, pensei que você não fosse gostar... pensei que eu não fosse sentir falta dele. Ah, mas como eu sinto falta... Tantas palavras que eu não disse estão entaladas em minha garganta, e eu as profiro sempre que posso, para as paredes do meu quarto, minhas melhores ouvintes. Você gostaria de ouvir o que eu não disse, e ainda tenho para dizer. Tenho certeza que gostaria, eu conheço você.

Outro dia encontrei dentro daquele livro que voce não me deu, o papel do bombom que eu não comi... lembrei na mesma hora do dia em que você me deu o bombom, no portão da minha casa. Passei a noite toda secando lágrimas que não sairam dos meus olhos. Mas agora, neste exato momento, estou revendo nossas fotos, e resolvi separar o espaço no mural pra tal que não tiramos... e também tomando algumas decisões. Comprar um mural novo, talvez cortar o cabelo, mudar alguns quadros no quarto... e também parar de me arrepender de coisas que não fiz.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Sobre impressionismos e impressões

Estavam os dois sentados, ele na cadeira de balanço, ela no banquinho de carvalho, comido por cupins. O Porto em cima da mesa brilhava conforme a chama da moribunda vela resolvesse crepitar, e, no escuro do ambiente, ela bordava alguma coisa, talvez uma bata. Sua idade avançada a impedia de subir escadas e alimentar os porcos, mas nunca de bordar. Ele, o velho Teobaldo, já nao discernia muito bem os objetos do casebre que dividia com Madalena, e suas sobrancelhas espessas atrapalhavam sua visão, sem mencionar a grande barba preta, que atrapalhava muitas coisas. O tédio dominava o casal, há muito abandonados pelos filhos à própria sorte, recebendo ajuda de vizinhos solidários e uns poucos amigos que a vida lhes reservara. Feliz seria o curioso que tivesse paciência o suficiente para ouvir as histórias daqueles dois, a atenciosa Madalena, e o destemido Teobaldo. Este último tendo lutado em muitas guerras, deste e do outro mundo, velho vivido, experiente; sortudo, sim. Com um esforço sobrenatural, quebrou o silêncio do escuro cômodo:

- Nada mais nessa vida me impressiona... Que venha, então, a morte.