Estavam os dois sentados, ele na cadeira de balanço, ela no banquinho de carvalho, comido por cupins. O Porto em cima da mesa brilhava conforme a chama da moribunda vela resolvesse crepitar, e, no escuro do ambiente, ela bordava alguma coisa, talvez uma bata. Sua idade avançada a impedia de subir escadas e alimentar os porcos, mas nunca de bordar. Ele, o velho Teobaldo, já nao discernia muito bem os objetos do casebre que dividia com Madalena, e suas sobrancelhas espessas atrapalhavam sua visão, sem mencionar a grande barba preta, que atrapalhava muitas coisas. O tédio dominava o casal, há muito abandonados pelos filhos à própria sorte, recebendo ajuda de vizinhos solidários e uns poucos amigos que a vida lhes reservara. Feliz seria o curioso que tivesse paciência o suficiente para ouvir as histórias daqueles dois, a atenciosa Madalena, e o destemido Teobaldo. Este último tendo lutado em muitas guerras, deste e do outro mundo, velho vivido, experiente; sortudo, sim. Com um esforço sobrenatural, quebrou o silêncio do escuro cômodo:
- Nada mais nessa vida me impressiona... Que venha, então, a morte.
- Nada mais nessa vida me impressiona... Que venha, então, a morte.


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