quarta-feira, 15 de junho de 2011

Uma flor de papel. É tudo o que resta. Nenhuma carta, nenhum bilhete, nada. As lembranças devem ser apagadas, soterradas pela vergonha que restou da grande tragédia que foi esse espetáculo. Soterradas pela vergonha e afogadas pelas lágrimas que brotaram deste último encontro, tão fatídico, tão cruel, tão resoluto, tão último. E aí eu esqueço que sei falar, que sei pensar, esqueço até que sou, me transformo num extraterrestre que só deseja voltar ao seu planeta, onde as coisas saem sempre a seu modo. Um ET que apareceu na sua vida, abduziu sua personalidade e agora é obrigado a retornar para a nave, só com uma flor de papel. Sem cheiro, sem aroma, sem pétalas. Sem espinhos, como você. E eu que achava que sempre estava me espetando, que sempre haveriam cortes profundos e incuráveis, enquanto você me dava apenas seu aroma e sua beleza. Triste fim, triste flor de papel.

E ajo como um robô, com suas ações previsíveis e automáticas, incapaz de fugir do clichê de palavras que sempre saem da boca de quem comete erros. Erros que já se repetiram vezes, e mais vezes, e mais vezes... E espero reações que não são suas, ou que são, mas não poderão ser agora. Não poderiam por ninguém que sente, que sofre, que chora, que vive. Sequer por robôs ou extraterrestres. Nem mesmo por flores de papel, que simplesmente existem. Então, consciente de que não haverá reação desejada, espero pelo tempo, senhor do destino. O tempo que não cura, cicatriza. O tempo que, quem sabe, dará voz à lembranças que talvez não mais existam, aquelas que foram afogadas pelas lágrimas e soterradas pela vergonha. É por este tempo que espero, e se ele não chegar, chego eu ao fim do poço, decepcionado por ter te feito sofrer, frustrado por não ter mais o cheiro da flor de papel...

quinta-feira, 3 de março de 2011

I.A.

Sempre me julgaram inteligente. Viviam me dizendo que eu iria longe, que minha inteligência era um diferencial. Diziam tanto que, afinal, me convenceram. Mas alguns acontecimentos vêm pra colocar tudo isso em cheque, e mostrar que inteligência, só, não basta para a seleção natural da vida. Veja você, tanto tempo se passou, a tempestade já acabou, a calmaria chegou, já se foi, e tornou a voltar, e cá estou eu, novamente imerso em lágrimas e me segurando em bóias de lembranças pra não morrer afogado. Nunca quis aprender a nadar, e isso não é inteligente. Às vezes me pergunto por quê. E são tantos os "por quês" que desisto no caminho, conformando-me de que não possuo as respostas. Sento-me, cansado demais pra indagar. No entanto, momentos depois, estou no chão, em busca dos cacos em que você transformou a minha vida.

Tempo atrás você disse que ainda pensava em mim, que me procuraria em breve. Foi uma bolha de ar dentro de um pulmão enxarcado, um sopro de vida em um doente em estados finais. Uma lenda, enfim. Esperei, como sempre esperei o tempo todo por mais verdade, por mais respeito, por mais lealdade, compreensão, sabedoria, amor, palavras. Tudo isso são palavras, e o que significam, afinal de contas? Significam que talvez nada tenha feito sentido, pois estamos distantes um do outro, como sempre estivemos, de fato. Você não procurou. Era mais uma mentira. E o inteligente aqui ainda cai, como um bebê, capaz de tomar o mesmo susto dezenas e dezenas de vezes. O inteligente não consegue esquecer você, que várias vezes esqueceu de mim em nome do seu ego e de sua ansiedade por fazer o impossível e me fazer sofrer. Não que eu duvidasse do seu amor, disso nunca duvidei. O estranho era sua forma de amar. E pensar que eu, que já acabei com tudo diversas vezes, seria o que mais sentiria sua falta.

Inteligência Artificial, nada mais que ignorância disfarçada de mérito.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Coração não é parque de diversões
não é playground
não é brinquedo
não é brincadeira
é coisa séria;
sente,
ama,
sofre,
pensa,
respira,
morre.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Caça ao Tesouro

Vasculhei bibliotecas inteiras,
folheei milhares de páginas,
li milhões de frases,
embaralhei mais letras ainda.
Rodei todo o país,
percorri as três Américas,
atravessei o Oceano,
dei a volta ao mundo.
Mudei de galáxia,
visitei universos vários,
saltei sobre estrelas,
corri todo o cosmos.
Tudo isso atrás de um só objetivo:
a receita para dominar meu coração.
Dominar sua vontade incessante de um outro
que bata no mesmo compasso que o seu.
Dominar seu desejo de desejar,
de amar, de precisar,
de procurar, de esperar...
e, a consequência da decepção,
da dor, da frustração.
Domar essa fera dócil,
que tanto precisa de uma igual
pra se sentir completa.
Preciso dessa receita, pra me domar,
pra não chorar, pra não amar.
Procurei no escuro, não sei se ela existe.
Não sei se é possivel domar o indomável.
Podar algo de um ato que lhe é seu por natureza,
impedir o coração de exercer seu único cargo: amar.
Continuo, contudo, procurando...
Não sei qual o próximo passo, mas espero,
no fundo, não me apaixonar mais uma vez
nesta empreitada.